O que procuras?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sempre orgulhosos!


De facto não comprámos dívida pública à Irlanda, mas comprámos à Grécia que por sua vez comprou à Irlanda, que por sua vez nos comprou a nós e ainda conseguiu salvar um banco Privado de abrir falência. Será que lá o líder da oposição também está disponível para governar com o FMI?


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Novo Hino para Portugal


Já que parece que mais ninguém quer mudar o país que adaptemos o hino a nova realidade!


Heróis do mal
Pobre Povo
Nação doente
E mortal
Expulsai os tubarões
Exploradores de Portugal
Entre as burlas
Sem vergonha
Ó Pátria
Cala-lhe a voz
Dessa corja tão atroz
Que há-de levar-te à miséria
P'ra rua, p'ra rua
Quem te está a aniquilar
P'ra rua, p'ra rua
Os que só estão a chular
Contra os burlões
Lutar, lutar!


Saudações

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O bairro do amor



No bairro do amor a vida é um carrossel 

Onde há sempre lugar para mais alguém 
O bairro do amor foi feito a lápis de cor 
Por gente que sofreu por não ter ninguém

No bairro do amor o tempo morre devagar 

Num cachimbo a rodar de mão em mão 
No bairro do amor há quem pergunte a sorrir: 
Será que ainda cá estamos no fim do verão?

Eh, pá, deixa-me abrir contigo 

Desabafar contigo 
Falar-te da minha solidão 
Ah, é bom sorrir um pouco 
Descontrair-me um pouco 
Eu sei que tu me compreendes bem.

No bairro do amor a vida corre sempre igual 

De café em café, de bar em bar 
No bairro do amor o sol parece maior 
E há ondas de ternura em cada olhar.

O bairro do amor é uma zona marginal 

Onde não há prisões nem hospitais 
No bairro do amor cada um tem de tratar 
Das suas nódoas negras sentimentais

Eh, pá, deixa-me abrir contigo 

Desabafar contigo 
Falar-te da minha solidão 
Ah, é bom sorrir um pouco 
Descontrair-me um pouco 
Eu sei que tu me compreendes bem.


Já agora, quem me sabe dizer onde fica este bairro?
Saudações!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Singularidades da língua portuguesa IV

"O PSD, como se diz aqui no Alentejo, tem uma posição de pantomineiro. Porque se quisesse alguma crise, que o Governo se fosse embora (já não digo ter votado a moção de censura do PCP), não tinha subscrito o PEC, votado o OE e as medidas adicionais"
Jerónimo de Sousa, Camarada.


pantomineiro
adj. s. m.
o mesmo que pantomimeiro


pantomimeiro
adj. s. m.

1. Que ou o que faz pantomimas. = mímico
2. Que ou quem engana com mentiras e pantomimas. = alicantineiro, intrujão, pantomineiro


Posso-me vangloriar que desde pequenino fui agraciado pela minha avó com o nome querido de pantomineiro. E esta hein?!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Camaradices

Dois camaradas conversam alegremente sobre a sua devoção ao partido:

- Camarada se tivesses dois automóveis de alta cilindrada davas um ao partido?
- Então não dava Camarada, faço tudo pelo meu partido.
- E se tivesses duas mansões davas uma ao partido?
- Então não dava Camarada, faço tudo pelo meu partido.
- E se ganhasses 20 milhões de euros, davas metade ao partido?
- Então não dava Camarada, faço tudo pelo meu partido.
- E se tivesses duas galinhas, davas uma ao partido?
- Não.
- !!!!Não percebo Camarada, estavas disposto a dar um automóvel, uma mansão e 10 milhões de euros, mas não queres dar uma galinha?!?!?!?!
- Sabes, Camarada, galinhas eu tenho...

E esta, hein ?!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Privatizações

"Regressados de uma viagem à argentina e Bolívia,
Os meus cunhados Maria e Javier trouxeram-me o jornal
Clarín de 30 de Agosto.
Aí vem a notícia de que vai ser apresentada
ao Parlamento peruano uma nova lei de turismo
que contempla a possibilidade de entregar
a exploração de zonas arqueológicas importantes,
como Machu Picchu e a cidadela pré-incaica
de Chan Chan, a empresas privadas,
mediante concurso internacional.
Clarín chama a isto
"la loca carrera privatista de Fujimori".
O autor da proposta de lei
é um tal Ricardo Marcenaro, presidente
da comissão de Turismo e Telecomunicações
e Infra-Estrutura do congresso peruano,
que alega o seguinte, sem precisar de tradução:
"En vista de que el Estado no ha administrado bien
nuestras zonas arqueológicas
-qué passaria se las otorgaramos a empresas
especializadas en esta materia que vienen operando
en otros países con gran efectividad?".
A mim parece-me bem.
Privatize-se Machu Picchu, privatize-se Chan Chan,
privatize-se a Capela Sixtina,
privatize-se o Pártenon,
privatize-se o Nuno Gonçalves,
privatize-se a Catedral de Chartres,
privatize-se o Descimento da Cruz
de Antonio da Crestalcore,
privatize-se o Pórtico da Glória
de Santiago de Compostela,
Privatize-se a cordilheira dos Andes,
privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu,
privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei,
privatize-se a nuvem que passa,
privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno
e de olhos abertos.
E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar,
privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez
a exploração deles a empresas privadas,mediante concurso internacional.
Aí se encontra a salvação do mundo...

E, já agora, privatize-se também
a puta que os pariu a todos."

José Saramago in "Cadernos de Lanzarote"

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Singularidades da língua portuguesa III

No dia de S. Martinho, vira-se a transmontana:
- O que eu gosto mesmo é de descascar as castanhas todas e só no fim comer as bilhoses!



bilhó 
s. f.
1. Beira Trás-os-M. Castanha assada ou cozida e descascada.

Saudações!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

As pessoas sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
Porque cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois de suor não foi lavada
Porque não tinha outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão"

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem

Sophia de Mello Breyner Andresen - Obra Poética II


Saudações!

Do admirável mundo novo I: Terrorismo do consumo



Saudações!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Singularidades da língua portuguesa II

«À porta da corte dos cevados estava uma mulher octogenária, com uma varinha na mão, acomodando os recos, que brigavam em redor da pia.»

Camilo Castelo Branco - O Bem e o Mal.


Explica o escritor: «O leitor provavelmente não encontra no seu dicionário o termo "reco". O povo de Trás-os-Montes, e de porção da Beira Alta dá aquele nome, cuja etimologia ignoro, aos cevados.»

Ora..., apesar de ser do interior norte da beira, desconhecia a ocorrência do termo reco, até há muito pouco tempo antes de ler O Bem e o Mal.
Foi-me apresentado por uma transmontana, a quem agradeço... ou não teria percebido patavina da explicação de Camilo, por desconhecer também o termo cevado...

cevado 
s. m.
1. Porco gordo.
adj.
2. Que esteve na ceva.
3. Fig. Saciado.


cevar
v. tr.
1. Tornar gordo, nutrir.
2. Pôr isca em.
3. Engordar.
4. Fig. Saciar, regozijar.
v. pron.
5. Encher-se, fartar-se.
6. Enriquecer.

Saudações!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

«A gente não faz amigos, reconhece-os.» Vinícius de Moraes

A palavra "amigo" já foi outrora muito especial. Hoje, está usada, gasta, esfarrapada... Banalizaram-na! Eu tenho 266 amigos no facebook... Muitos deles não os conheço; outros conheço, mas nunca falei com eles; com outros, não troquei mais do que uma, duas, três palavras; com outros comuniquei mais, mas poucas vezes os vi ou não os vejo há muito tempo; com os outros comunico mais, mas raramente os vejo... Poucos, muito poucos me acompanham na vida real... E agora, que nome hei-de eu chamar a estes?




Acho que me resta não os chamar e, simplesmente, reconhecê-los...

Saudações!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Singularidades da língua portuguesa I

Quem é que sabia que se dava o nome de Romeu e Julieta a um bocado de queijo e marmelada?


Saudações!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Soneto de José Régio, 1969

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

Está publicado pela Ariadne, mas a leitura foi aconselhada pelo camarada Hugo! OBRIGADA!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Hierarquia empresarial


Chegado via correio electrónico...

Saudações!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A audição não engana...

Retomando a temática do artigo anterior (anterior em data, mas posterior em posição, à boa maneira arquivística ou administrativa...), continua a guerrilha entre as rádios...
Hoje, mal começou a 3.ª ronda de papa americano, poluente do meu ouvido direito, eis que o meu ouvido esquerdo foi despertado pela voz de Zeca Afonso: a morte saiu à rua num dia assim...




Saudações!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Uma receita auditiva para começar bem o dia

Nunca fui fiel ouvinte de estações de rádio. Sempre preferi ser eu própria a escolher o que queria ouvir. Contudo, nos mais distintos e diversos contextos, acabamos por ser obrigados a ouvir... e, nestes últimos meses, tenho sido companhia forçada não de uma, mas de várias a tocarem ao mesmo tempo. No meio desse frenesim, compensando as repetidas circulações da papa americano ou da shakira, há uma delas que me vai presenteando, a Rádio Clube de Aveiro. Há lá maior presente do que começar a manhã de trabalho a ouvir the carpet crawlers heed their callers, we've got to get in to get out, we've got to get in to get out, we've got to get in to get out...




Saudações!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

...and each small candle lights a corner of the dark...



Para reacender o blogue...

Saudações!

sábado, 3 de julho de 2010

Olh'ó rei da macacada!



Saudações!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Da busca de trabalho

«Professora de Mirandela que posou para revista masculina trabalha no arquivo municipal. A professora de Mirandela que foi suspensa de funções depois de ter posado para uma revista masculina está agora a trabalhar no arquivo municipal.»

Então são estas as condições de ingresso num arquivo municipal? Posar nua para uma revista masculina? Ok! Eu deito fora os anos que passei a queimar pestanas e procuro outra profissão...








Saudações!

Quanto papismo!



Não tenho comentários... A minha única reacção ao ver este vídeo foi, literalmente, rebolar no chão a rir. O nosso Presidente da República tem realmente muita piada!

Saudações!

Eles comem tudo e não deixam nada...



...São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei...

Saudações!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Génio da banalidade

Esfrega-se a lamparina para o génio aparecer, não é? E para que ele se evapore, como é que se faz?

Seria importante saber, porque o génio cavaquista só pode ter saído de uma lamparina mágica... Sim! Reconheço que o nosso Presidente da República é um génio... Tinha de ser, ou não conseguiria chegar onde chegou. Mas mesmo assim, não consigo perceber como é que tal figura consegue chegar a chefe de Estado... Sinto-me humilhada, enquanto portuguesa, sempre que o ouço e vejo falar na televisão. E nunca mais me vou esquecer do dia em que ele foi eleito Presidente da República...

E pronto... É difícil falar de Cavaco Silva e associá-lo ao mesmo tempo à Presidência da República Portuguesa. E não sou a única a ter dificuldades...



Saudações!

terça-feira, 22 de junho de 2010

A modinha dos mentecaptos IV

Pelo conteúdo dos últimos artigos, dei comigo a pensar se não devia mudar o nome deste blogue para "À memória de Saramago"... E cagar em todos os contribuidores deste blogue (com a excepção de um), que além de não fazerem absolutamente nenhum artigo, simplesmente não se dignam a visitá-lo... tal é o vislumbre do facebook... só há tempo para o facebook...

Digam lá as maravilhas que disserem do facebook, a verdade é que não passa de mais uma modinha de mentecaptos, que mais cedo ou mais tarde passará de moda como passaram, em três tempos, outras redes sociais... (é claro que a minha opinião vale o que vale...).
Não deixo de lhe reconhecer algumas vantagens, entre elas a divulgação de eventos, por exemplo, bastante vantajosa simplesmente porque toda a gente tem facebook e toda a gente é amiga de toda a gente... Vive-se, também, a banalização da palavra «amigo»... Mas isso daria tema para outro artigo...
Em relação às utilidades como página pessoal e ao simples facilitismo de se carregar num link para manifestar a simples opinião de "gosto", quando lemos uma afirmação do tipo "acabei de ir cagar", considero-as uma tremenda trivialidade.
Admito, no entanto, que me deixei arrastar pela moda, não estaria então a comentar sem conhecer o fenómeno. Mas sempre que aderi a essa do "gosto", momentos depois, dei comigo a pensar no absurdo. E isto em duas semanas.

A própria blogosfera também já foi moda. Toda a gente tinha um blogue... Mas vivemos na era da simplificação e manter um blogue activo com leitores fiéis dá muito trabalho. Ler ou escrever textos grandes? Há lá tempo para isso...
Mas o que aconteceu com este blogue, aconteceu com muitos outros, por exemplo, com O Falcão e seus Comparsas, cujo clip do mês devia passar para clip do ano, e cujo número de contribuidores não se reflecte no número de artigos ou comentários. O mesmo acontece com o Até Morrer, todos criados há cerca de 4 anos.
No entanto, decidi medir a minha resistência e comprometer-me a continuar a actividade dos blogues, não só como fonte de informação, no caso do Falcão, mas também como depósito onde vou arquivando todas as opiniões, chatices e irritações que fechadas dentro de mim, me enferrujam a alma... E isso sem medo algum de opressões... Essas já bastam no mundo real!

Saudações!

P. S.: Estou para ver, com esta nova faceta do blogue, qual dos muitos contribuidores cá volta...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A modinha dos mentecaptos III

...só quem nunca leu Saramago é que não gosta dele. E quando digo ler, não falo só em juntar letras..., estou a ir até ao sentido etimológico da palavra: colher.
Esses... e os que são vítimas da cegueira branca, a chamada agnosia que, à letra, significa ausência de conhecimento...

Relembro, aliás, o sistemático comentário que fui ouvindo em relação à opinião e declarações de Saramago sobre a Bíblia, na altura em que o Caim foi publicado: «...disse isso só mesmo p'ra vender livros...».
Sinceramente!
Lá está...
Repito,
...só quem nunca leu Saramago é que pensa e diz uma coisa destas...

Saudações!

«A nossa única defesa contra a morte é o amor»

Não sei o que escreva, porque tudo o que disser parecer-me-á pouco... Mas, em desabafo, tenho de dizer que admiro muito a defesa que Saramago adoptou, em vida, contra a morte... Admiro todo o amor que depositou em cada livro, frase, palavra que escreveu... Admiro todo o amor que entregou à língua portuguesa... Admiro todo o amor que entregou em cada discussão que travou... Admiro todo o amor que dedicou aos seus ideais... Admiro muito o seu amor por Portugal... Admiro o amor que me despertou pelos seus textos... Admiro muito José Saramago...


Apesar de ter partido, serve-me de consolo saber que vai continuar a viver... até muito depois de eu ter morrido... sem dúvida alguma!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A modinha dos mentecaptos II

... Insistindo ainda nos 1764 mentecaptos... Eu gostava de saber o que eles já fizeram por Portugal, para julgarem ter a legitimidade de desejarem que seja tirada a nacionalidade a um português, cuja expressão escrita na sua língua materna foi premiada a nível internacional. O prémio Nobel vale o que vale, mas o mais importante foi a elevação da língua portuguesa.

Mas pronto! Auxiliada pelas palavras de Saramago, eles «quere(m) pelo desejo o que sabe(m) não poder querer pela vontade». (p. 79)

«(...) já os latinos garantiam, na língua deles, que mais valem e perduram os actos que as palavras, dêmo-los pois a eles por cometidos e a elas por supérfluas, quando muito empregando-as no seu mais remoto sentido, como se ainda agora tivéssemos principiado a primeira rede do casulo, esgarça, ténue, quebradiça, usemos palavras que não prometam, nem peçam, nem sequer sugiram, que desprendidas apenas insinuem, deixando protegida a retaguarda para recuo das nossas últimas cobardias, tal como estes pedaços de frases, gerais, sem compromisso, gozemos o momento, solenes na alegria levemente (...)». (p. 248)

O que mais lhes interessa «são precisamente estas notícias do quotidiano dramático e pitoresco, o conto do vigário, as desordens e agressões, as horas sombrias, os actos de desespero, o crime passional, a sombra dos ciprestes, os desastres mortais, o feto abandonado, o choque de automóveis, o vitelo de duas cabeças, a cadela que dá de mamar aos gatos (...)». (p. 340)

SARAMAGO, José - O ano da morte de Ricardo Reis. Lisboa: Caminho, 2003.

Saudações!

A modinha dos mentecaptos

Então não é que há uma página no Facebook chamada, passo a citar, «Saramago vai à merda! Tirar a nacionalidade portuguesa a José Saramago»? E conta, aliás, com 1764 membros... E o que é que estes defendem? «Este comunista atrasado mental não tem o mínimo de respeito por PORTUGAL e pelos seus cidadãos.
Além disso, nem português sabe escrever, já que não sabe as elementares regras de pontuação, e só escreve livros aborrecidissimos! ELE É UMA NULIDADE!
O desrespeito pela Biblia bem como pelas convicções dos crentes, foi a gota de água.
Por isso, está na altura de lhe retirar a nacionalidade portuguesa! Nem é preciso expulsá-lo do país porque ele já vive em Espanha.
SARAMAGO, VAI À MERDA! e leva a Pilar contigo.»

Eu estou nauseada com tanta diarreia mental. As pessoas já nem têm vergonha de reconhecer que são umas ignorantes. Parece que está mesmo na moda ser mentecapto... Quanta verborreia junta, vejam só!

Enfim! Que admirável mundo novo!

Saudações!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Eis aqui o agiota - Fausto


Eis aqui o agiota
Eis ali a agiotagem

De novo mergulho na luz do astro da música
A minha cabeça
De novo à procura daquela
Melodia que teima
Em nascer às avessas
Se ribomba no contrapasso e se já cruza o ciberespaço
Então
Cuida de ti usurário
Na zona escura do erário
E da folia financeira
Do teu corpo fundo
E mais anónimo
À volta do mundo
Atravessando fronteiras

Esvoaçam

À tua volta esvoaçam
Taxas de juros e câmbios
De cambistas e banqueiros
Títulos e dívidas
Contraseguros
Visões garridas
Malabaristas
E oníricas
Do dinheiro

A minha guitarra não toca para ti
A minha guitarra rosna

Obeso e rebarbativo alardeando
A engorda
O teu figurino
Obesa a corruptela que mais
Disfarça e transforma
Selvagens capitalismos
Em brandos neoliberalismos
O mais doce dos eufemismos
E então
Tu provas na perfeição
Que geres com o teu cifrão
A infelicidade dos outros
Reduzes um drama
O do maior desemprego
A centigramas
À percentagem de uns poucos

Encurralados

Os mais jovens encurralados
Em becos rasos de seringas
Contrafeitos mercadores
Em praças e ruas
Ruelas e avenidas
Envergonhadas
E mais anuladas
As mãos estendidas
De arrumadores

Morreu a proletária ditadura
A ditadura do mercado já nasceu

Se cada vez menos produzem
Mais para a maior minoria
Toda a riqueza
Se cada vez menos para a imensa maioria sobram
Sobras que te caem da mesa
Da guerrilha dos capitais
Em doces paraísos fiscais

Então
Cuida de ti argentário
O que retrata este sudário
É a maior parte do mundo
Que sobrevive na penumbra
De olhos postos em ti
Moribundo
Mas que te olha já defunto

E enches a boca

De direitos humanos
Enches a boca
De fala
Do pensamento
Mas o do trabalho nunca
E porque será
Que esse direito
No esquecimento fica
Se crucifica
Mais
Se abdica
Mas fica a pergunta

Keynes
Ao pé de ti
E arrumado a um canto
É a alegoria
Ou o retrato de um santo?

Saudações

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Do adeus e da saudade

Ontem fui subitamente apresentada a duas quadras que captaram desde logo a minha atenção. Falam do adeus... da saudade... E é incrível como duas palavras aparentemente tão simples conseguem suportar uma carga semântica e simbólica tão grande... Estavam esquecidas num documento, esquecido no meio de tantos outros, sem um autor identificado. Como não quero ficar com elas só para mim... Aqui estão:

Não se creia nem se diga
que a saudade é inocente;
simulando ser amiga
não tem dó nenhum da gente.

Adeus - palavra mais triste
que os lábios podem dizer.
Se a triste saudade existe
um adeus a fez nascer!

Já agora se calharem a passar por aqui e souberem identificar o autor, partilhem-no na caixa de comentários. BEM HAJA!

Saudações!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Pedinte de afecto

«Pedinte de afecto» é o nome dado a este cartoon, da autoria de Saeed, publicado no jornal iraniano Asre Mardom, a 17/02/2009. É um dos cartoons que fazem parte da edição do Expresso: Os autores World Press Cartoon. Sintra, 2010.

Afecto, de facto, é o que falta a muita gente. Não só recebê-lo, mas também dá-lo... Hoje em dia, andamos de tal forma ocupados que nem nos apercebemos que esse é, sem dúvida, um bem essencial...

Ai! Que agora me sabia tão bem um abraço!

Saudações!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A síndrome de escrever "o síndrome"

Moeda europeia atingida *pelo síndrome da crise grega.

A palavra síndrome é um substantivo do género feminino. Mas sabe-se lá porquê instalou-se a prática de travestir a palavra, seja na oralidade seja na escrita... E o que mais para aí há aos pontapés são pessoas com a síndrome de escrever "o síndrome"...

Moeda europeia atingida pela síndrome da crise grega. Assim sim!

Saudações!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Do laicismo


laicismo
s. m.
  1. Nome de uma seita do séc. XVI que pretendia para os leigos o direito de governar a Igreja.
  2. Doutrina que tende a dar às instituições um carácter não religioso.
Tudo bem que o laicismo, enquanto doutrina filosófica, não deva ser confundido com ateísmo do Estado. No entanto, convém lembrar que esta doutrina defende e promove a separação do Estado das igrejas e das comunidades religiosas, bem como a neutralidade... a passividade... do Estado em matéria religiosa.

Segundo o parágrafo 4 do artigo 41.º da Constituição da República Portuguesa, «As igrejas e outras comunidades religiosas estão separadas do Estado...».

Pois bem! Então como é que uma leiga, como eu, consegue compreender isto?!: «Metade do pessoal do Estado vai gozar as férias papais».

Saudações!

7 graus?

Batendo na mesma tecla...


7 graus Festival da Canção? Acho que não é isso que querem que se leia, pois não?

Este é apenas um exemplo. Os jornais (em papel, em audiovisual ou electrónicos) cometem o mesmo erro todos os dias... Se bem que hoje fiquei impressionada, pela positiva, quando vi o jornal A Bola: «O Benfica conquistou, este domingo, o 32.º título de campeão nacional do seu historial...» ;o)

Saudações!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Qual a diferença entre 1º e 1.º?

ou


A diferença não está só no trabalho de colocar um ponto... O ponto tem um significado, cada vez mais desprezado pelos que escrevem português. E não sei se o problema é meu, mas cada vez que vejo a ausência do ponto aceleram-se as minhas batidas cardíacas... E são muitas as vezes! Praticamente sempre que vejo um cartaz, onde é necessário recorrer ao uso de abreviaturas, por uma questão de poupança de espaço. Mas antes fosse apenas nos cartazes! O mau uso das abreviaturas generalizou-se...

Naturalmente, que não sou contra o uso das abreviaturas, sou antes a favor do seu bom uso. E qualquer abreviatura tem de ser acompanhada de um ponto:
  • n.º [não *nº];
  • Dr. [não *Dr];
  • Sr. [não *Sr];
  • 2.ª feira [não *2ª feira];
  • etc. [ou seja, e outras coisas, abrev. de et cetera].
O ponto abreviativo é assim indispensável nas palavras abreviadas, significando a ausência de letras. A abreviatura de "primeiro" será 1.º. O ponto significa que o cardinal se lê "primeir", com a terminação da palavra em índice superior. Se for "primeira", será antes 1.ª, uma vez que a última letra é um -a.
Só não se usa o ponto nos símbolos. É o caso dos elementos químicos (B, símbolo químico de bário), das unidades de medida (m = metro). É o caso também do símbolo de grau. 1º = 1 grau; nunca 1º = primeiro.

POR FAVOR!!! É TÃO FÁCIL DE ENTENDER!

Saudações!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Homens, afastem-se das mulheres atraentes...


Investigadores da Universidade de Valência chegaram à conclusão que estar na presença de uma mulher bonita pode ser perigoso para a saúde dos homens, mesmo que por cinco minutos... Não acreditam? Vejam aqui. E depois não digam que eu não vos avisei...

Relembrando excertos da Bíblia... «Então descobri que a mulher é mais amarga do que a morte, porque ela é uma armadilha...» (Eclesiastes 7, 26); «Foi pela mulher que começou o pecado e é por culpa dela que todos morremos» (Eclesiástico 25, 24).

Pobres homens!!!

(Imagem: Magritte, The Rape, 1934)

Saudações!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Fundo Monetário Internacional, por José Mário Branco






Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o Mortimore do Meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attachi-case' sai a solução!

FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI

Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!


FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico 'hara-quiri'
FMI Panegírico, pro-lírico daqui

Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3.º grau!

FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...

Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?

A one, a two, a one two three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autêntico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o árbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de polícia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão-de te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canadá ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...

Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grândola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.

Saudações